terça-feira, 16 de setembro de 2014

O ISIS também me está a matar


Eu nunca fui ao Iraque, nem à Síria - o para este texto não faz diferença.
Eu não conheço a Umm, nem quando esteve de férias em Portugal e muito menos quando se chamava Ângela. Também não conheço a escocesa Aqsa.
Também não nenhuma das outras, que aos 19 e poucos anos, voluntariamente viajaram para a Síria ou para o Iraque, para se casarem e servirem a jihad. Sim, porque não basta juntarem-se à malta. Elas têm que casar-se. Afinal, sem marido como esperam ser protegidas? Como podem sair de casa? Ir às compras ou trabalhar? Ups, que ingénua, elas trabalham em casa, são as Community Managers da jihad. É ali entre o varrer o bunker e preparar os hambúrgueres com ketchup e uma Pepsi (afinal isto de combater a obscenidade e conquistar um estado dá sede), que elas se dedicam a publicar fotos de cabeças decapitadas ("Adivinhe quem veio para jantar?") entre emoticons de sorrisos, corações e piscadelas de olhos. Um carinho!

Elas que estudaram nas melhores escolas (dizem as famílias) ou frequentaram a escolaridade obrigatória ou pelo menos tiveram essa oportunidade. As famílias desiludidas tentam entender o que se passou. Elas foram acarinhadas, vestiam saias curtas, tinham amigos e  namorados.
Mas isso agora não importa, nem para elas. O que importa é que agora, elas são umas guerreiras e apoiam os valentes e honrados guerreiros do ISIS. Adeus cavaleiros do Rei Artur, olá jihadistas de negro!

Nas redes sociais, elas tiram selfies de niqab negro e com as amigas (qual delas a mais gira!), com o dedo indicador a apontar para o céu.
Elas partilham fotos de gatinhos; tiram fotos ao interior das malas - "querem saber o que está dentro da mala de uma senhora?" perguntam, exibindo uma arma! Ah ah ah, que engraçadas, morooro de riso. O quê? O calibre? O modelo? Pfff, não faço a mínima ideia. As miúdas têm uma arma e comem Nutela. Porra, o ISIS é mesmo fixe.

"Os media criam a ideia de que se vive no meio de uma guerra, mas não é tão inseguro como dizem. É verdade que às vezes cai uma bomba, mas não se sente medo. E se a bomba tiver escrito o nosso nome, tornamo-nos mártires, Insha'Allah". (excerto retirado do Expresso, ver mais abaixo)
Epa! Isso é melhor do que ganhar o Preço Certo. Sorte mesmo é se essa bomba matar para cima de dez civis. E se forem meninas entre os 12 e os 16 anos, ainda melhor, pois isso até dá direito a comer um frango com Maomé no Paraíso. Num plano mais térreo, ganham o nome numa rua bombardeada, no norte da Síria.
Todavia, os maridos (abençoados!) sabem sempre quando cai uma bomba, ou seja, elas estão bem. Elas estão bem!

Pela primeira vez, dou por mim a ansiar por um milagre e que Alá e Maomé voltem à Terra, só para dar umas belas palmadas no rabo destas meninas, ensinando-lhes a respeitar os outros, sem guerras, sem ódios e sem fundamentalismos parvos.
Podia ser que esses dois lhes conseguissem explicar (a elas e aos outros) que ambos se estão nas tintas para um califado islâmico, (eles nem vivem cá!), e que essa coisa da sharia, a suposta lei com base no Corão, não foi escrita, nem ditada por nenhum deles. E que também aquelas decapitações à Seven, de David Fincher ou as violações de adolescentes constam no guião.
@Alá e @Maomé: acham que podem fazer isto? É só meia hora do vosso dia, depois podem voltar ao Paraíso e ir jogar dominó com Buda, Jesus e Shiva. Agradecida.


Uma das coisas mais me frustra nestes jovens, já que infelizmente não se tratam só de mulheres, é que me arruinaram o sonho, transformando-o numa utopia.
Eu sei que há muitos loucos no mundo, porém eu sempre acreditei que a educação era a chave para tudo. Eu acreditava que num mundo educado e instruído, estas coisas não poderiam passar, pois o preconceito e fundamentalismo são frutos da ignorância e pobreza do espírito.
Acreditem ou não, mas o ISIS matou parte de mim.