segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Amiga estás a pensar em ir ao Irão, mas tens dúvidas? Então:

Esfahan, Irão
1. IR OU NÃO IR?
Ir. Ir sempre.
Além do berço da cultura persa, o Irão mesmo não sendo propriamente conhecido como atracção turística, é um país que vale a pena ser explorado e vivido. Há arquitectura variada, muita mesquita e até palácios, além de montanhas, deserto e praia - e até uns castelos portugueses lá no sul.


2. E AS PESSOAS?
Têm dois olhos, um nariz e uma boca. Todas normais!
A verdade é que os iranianos são bastante acolhedores e gentis. Eram constantes os "hello" ou "Welcome to Iran", que nos gritavam no meio da rua e muita gente pára para perguntar de onde somos. Infelizmente não são muitos os que falem inglês - o inglês não se ensina nas escolas, nem na universidade; mas isso não significa que mesmo sem saber inglês não tentem falar. Muitas das conversas acabam por converter-se em longos monólogos em farsi.
Os iranianos com quem falámos, eram muito curiosos e perguntavam muito por que razão estávamos ali e queriam saber qual a imagem do Irão no exterior. Preparem-se também para muitas conversas sobre o Islão - não eles não querem converter ninguém, mas a construção da identidade iraniana é feita em prol da religião e não da história.

Palácio Sabadah, Teherão
3. É SEGURO?
Sim. Não sentimos qualquer tipo de ameaça. As pessoas são muito gentis e sinceramente não experimentei (nem  escutei) qualquer história sobre roubos, raptos ou o que for.



4. E O VISTO?
Cada nacionalidade é um caso e o melhor será sempre confirmar. No aeroporto fazem vistos de 15 dias, sem problemas e por 50 euros.
Nós fizemos o nosso através de uma agência em Madrid (foi esta a indicação da própria embaixada iraniana) e quando chegamos, não o aceitaram e tivemos de fazê-lo (e paga-lo) no aeroporto, à chegada.

Persapolis, Irão
5. COUCHSURFING: SIM OU NÃO?
Sim e não.
A primeira experiência foi em Shiraz e foi fantástica. Era um família, com duas filhas, com quem jantávamos todos os dias, conversávamos e jogávamos às cartas e mikado, depois de comer. Fomos muito bem tratados e tínhamos total liberdade. No dia em que tivemos de ir, foi bastante triste deixá-los.
Já em Esfahan, a experiência foi menos positiva. O nosso anfitrião tinha todo um plano para nós, querendo acompanhar-nos para todo o lado e não nos dava espaço, para fazermos as coisas como gostávamos. Além disso, apenas ele falava inglês e... apenas falava com o meu namorado.

A verdade é que além de ser uma boa forma para poupar dinheiro, é o ideal para conhecer locais e saber mais sobre como vivem. 
Sinceramente recomendo, mas o melhor será sempre ler atentamente todas as opiniões sobre o anfitrião e no pedido, deixar bem claro que tipo de viajante são e o que esperam da vossa estadia.


Yazd, Irao
6. E SER MULHER (VIAJANTE NO IRÃO):
Pois!
Nem sempre é fácil. Para muitos homens, mesmo aqueles que nos abordavam na rua ou até que nos recebia em casa, as mulher são seres secundários. Muitos homens ignoravam as minhas perguntas ou até a minha presença. Houve um senhor que depois de meia hora de conversa, se recusou a apertar-me a mão, pois isso, segundo a religião dele é "pecado".
A verdade é que nem sempre é fácil e aí eu lembrava-me do conselho da minha mãe: "fica caladinha e guarda as tuas opiniões. Não és tu que vais mudar aquilo!". Podemos (nós mulheres) irmos preparadas para este tipo de coisas, mas é inevitável que isto não nos afecte.
Além disso, ver outras mulheres sempre tapadas, o constante negro que se passeia pelas ruas, mexe (muito) com a feminista que há dentro de cada uma. Apesar de cada viagem ser única, uma mulher irá sempre sentir o Irão na pele, de uma forma diferente de um homem.
Muitas viajantes diziam-me que passaram os primeiros dias (semanas) zangadas com o mundo (leia-se homens). Eu passei um dia, inclusive discuti com o meu homem quando ele não levou o prato dele para a cozinha depois de comer.
Mas depois passa. É mais uma aprendizagem e também por isso, o Irão vale a pena!



7. ENTÃO TENHO QUE IR TAPADINHA?

Antes de ir, li muito sobre o Irão e muita informação falava sobre uma nova geração, mais moderna até na forma de se vestir. OK, isso existe, mas as regras islâmicas continuam a ser lei e são para cumprir - além disso, esses jovens existem, mas representam uma geração com dinheiro  e estão bem longe de ser a maioria.
A maioria das mulheres usa o hyab ou chador - e depois de verem uma mulher com um chador, entende-se que:
a) aquilo não é prático;
b) e que só um homem poderia conceber aquilo como roupa feminina.
As mulheres não têm como o prender  ou fechar (basicamente é como se o Super-Homem tivesse uma capa, mas presa à cabeça, com um elástico). Agora, imaginem ter que correr com isto, transportar sacos ou ter que levar um bebé nos braços, assim vestidas. E claro, trabalhar.

Aos viajantes exige-se roupa larga (nada que revele as curvas) e um lenço, de forma a tapar o cabelo e o pescoço.
E podemos sempre contar com a tolerância iraniana, as pessoas são bastante indulgentes com os estrangeiros, especialmente quando o lenço cai - e ele cai muitas vezes. Entre mulheres é também comum a troca de sorrisos.
Uma vez, a minha camisola descaiu e revelava um pouco (muito pouco) das minhas costas. Uma iraniana muito educadamente, aproximou-se de mim e deu-me umas (delicadas) pancadinhas nas costas destapadas - é que sobretudo em datas religiosas (Ramadão, Ashoora, ...), estes detalhes revelam-se mais delicados.
Por norma, as iranianas usam vestidos em cima das calças e sapatilhas (Nike rules) ou então andam todas de negro.
Os homens podem ir como querem, mas é de evitar calções ou cores muito fortes.

Quanto à maquilhagem, às estrangeiras recomenda-se descrição. Todavia, vão encontrar bastantes iranianas super-hiper-mega maquilhadas. Algumas parecem saídas de um show de travestismo.


Yazd, Irão
8. E VIAJAR DENTRO DO IRÃO? 
E OS TRANSPORTES PÚBLICOS?
Há vôos internos, mas eu não usei.
Viajei de comboio (há que comprar os bilhetes com alguma antecedência) e é super cómodo, com camas e com direito a água, lençóis e mantinha e, por vezes, chá. Há carruagens apenas para mulheres.
Os autocarros entre cidades são muito bons também e bem, bem espaçosos e com direito a um snack.
Não só a qualidade de serviço é boas, mas também os preços bastante bons.

Quanto aos transportes públicos dentro das cidades, apenas Teherão tem metro - e recomenda-se.
Como os autocarros andam sempre cheios e o trânsito é caótico (sorte e muita coragem na hora de atravessar a rua), os táxis são bastante populares - e há vários, brancos, amarelos, verdes, velhos, novos e a cair de podre.
Um conselho: combinar sempre o preço primeiro. Por norma, aos turistas, os taxistas cobram mais do que aos Iranianos, que pagam cerca de 100 por pessoa. Olho!

E sim, existe nos autocarros e no metro uma separação entre homens e mulheres. Pelo menos, na teoria,
No autocarro, elas devem entrar e sair por trás - na hora de pagar e depois de descer, há que voltar a subir pela porta da frente para pagar. Porém, se há lugares vagos na parte masculina, as mulheres sentam-se e vice-versa.
No metro, em Teherão, é como se nem houvesse divisão e todos os utentes se misturam..
Seja o autocarro ou o metro, ambos são bem baratos - cerca de 0,15 cêntimos o bilhete.


Yazd, Irão
9. COME-SE BEM?
Não se come mal, mas a comida está longe de ser espectacular e é sobretudo limitada. Muito kebab e muito arroz. Mesmo em casa, a ementa não varia muito, sendo também os guisados/ensopados comuns.
Boas, boas: são as sopas, têm um gosto a limão, bem particular. Mas o melhor, para mim, era o queijo. Era bem branquinho e fácil de untar. Uma delícia da qual já sinto muitas saudades.
Há também muitos sumos naturais (laranja, romã, banana, etc.) a óptimos preços e chá. Muito, muito chá.

Esfahan, Irão
10. DINHEIRINHO.
A nota de maior valor é a de um milhão de riales - a moeda oficial. Porém, há muitos preços em tomans, o que causa uma grande confusão, seja na hora de pagar ou de negociar. Vezes sem conta pagamos mais do que seria necessário e sempre, mas sempre fomos avisados por um iraniano. São gente séria e bastante honesta - vamos concordar: muito poucos vencedores receberiam uma nota de 50 euros e avisariam que o preço real é de 5 euros, trocando as notas.
E apesar de haver coisas muito baratas, aqui fica uma nota: os hotéis no Irão são caros. Como não recebem muitos turistas, não só a info em inglês é bastante limitada, como também os hostels não existem, só hotéis. Há que estar preparado para pagar 20 dólares por um quarto, mesmo sem casa-de-banho ou pequeno-almoço. E isto não acontece apenas na capital.


Madrid me mata ou coisas de e/imigrante


E do nada, escuta-se uma crítica. Um comentário menos positivo sobre Portugal e... cai o Carmo e a Trindade.
O bom português revela a Padeira de Aljubarrota que há dentro dele e é um salve-se quem puder! Pelo meio, ainda temos tempo para içar a bandeira, cantar o hino e recitar Os Lusíadas.
Ele há gente...