quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

As 50 cinzas e os 50 tons ou lá o que seja do Senhor Grey


Vou para o trabalho e ele lá está. Volto e ele lá está. E já todos (todas) falam e mimi!
Parece que está para estrear as Sombras do Grey, são 50 e eu prefiro opinar já, que fica assim o caso arrumado.

Ora, há muitos anos atrás, quando eu ouvi falar que andava tudo tolinho (tolinha!), com um livro erótico para o mulherio, com fantasias e palmadinhas, eu pensei "Epá, pipi power! Libertaram as vaginas!" e pareceu-me muito bem.
Depois, creio que numa revista, li uns excertos e achei aquilo assim para o pobrezinho e com uma escrita a deixar um pouco a desejar. Eu faço parte dos que acredita que o que importa é ler, mesmo que isso implique ter na estante coisas da Margarida Rebelo Pinto ou do Paulo Coelho - sai diabo! Como diz o povo "cada um sabe de si" e, voltamos ao início, o que importa é ler.

Numa aula, partilhei a minha opinião e uma aluna defendeu com tanto ardor o livro, que nesse mesmo dia me mandou o pdf em espanhol. E eu li.

E meus amigos, que porra é aquela?! Nem é só pela (qualidade da) escrita. Mas que porra é aquela?

Primeiro, temos a moça, uma virgenzinha, cheia de moral (as piores), que logo na primeira queca atinge o orgasmo e aquilo é do caraças. Ele coitadinha, muito purinha, nunca pinou, mas TAU acontece e adora.
Adiante, claro que ela, virtuosa como é, só entra naquele mundo de taradice, porque gosta mesmo muito dele - mas mesmo muito! Sim, porque uma gaja não pode gostar de mandar quecas, de levar umas pamadinhas no bumbum, nem de realizar as suas fantasias, só porque sim, só porque gosta. NÃO! Em tudo, ela é submissa e se o faz, é porque gosta mesmo muito do moço, mas mesmo muito!
Mas que ninguém se preocupe, porque, primeiro, ele é uma jóia de moço, adoptados por uma boa (e milionária) família, cheio de classe, dos que ouve ópera, sarado que se farta e cheio de dinheiro, assim a atirar para milionário. Achavam mesmo que esta era uma história sobre o canalizador e a virgem?!

O mesmo com ele. Aquela coisa do sexo é uma evasão. O senhor Grey é um franguinho sem barba e que afinal tem todas aquelas manias do sexo, TACHARAN, porque foi vítima de severos mal-tratos na infância.
O que pensavam? Achavam que era só pinar-por-gosto-tipo-coelhos?! Que Jesus venha a terra, se alguém de forma natural e livre de dramas psicológicos, goste tanto assim de sexo e de seja capaz de tanta badalhoquice. É que, amigos, como diz o cartaz, o Senhor Grey não faz amor, ele fode... e faz contratos.

Como se isto não bastasse, o drama da Cinderela continua. Sim, da Cinderela. Ela começa o livro como Gata Borralheira e logo depois, ela é jóias, ela é viagens a Paris e passeios de jacto. E claro que ele anda à porrada por ela, porque aquilo que era apenas um contrato, passa a ser... amor.
Se até na vida real seria difícil deixar um gajo assim (bem, difícil mesmo, seria encontrá-lo!), neste livro, então, é impossível. E lá seguem mais dois livros sempre naquilo, até ao felizes para sempre.


E não, não me chateia que haja quem leia e tanto zumzum à volta de um mau livro. Cada um lê o que quer e, mais uma vez, o que importa é LER. Só parem é de apregoar que este é um livro feminista ou que apela à libertação sexual da mulher.
Chateia-me, que nem num livro do século XXI, uma mulher possa foder só porque sim.
Que não haja uma personagem feminina na ficção disposta a realizar 283772 mil fantasias sexuais, sem ter que ser uma tonta apaixonada. Lá está a porra do amor eterno e que tudo que supera. Lá está o felizes para sempre. Lá está!