quarta-feira, 1 de outubro de 2014

As heroínas

Groningen, Holanda

O roque e a amiga deixaram a Turquia, depois de um semestre de Erasmus e ala! Suiça, França, Alemanha e Holanda.
Já passava da meia-noite, quando de autocarro chegaram por fim à Holanda, deixando Bremen (Alemanha) para trás.

Groningen é uma pequena cidade holandesa, cheia de bicicletas e verdes parques. Tem um bonito centro e uma Universidade. Dias mais tarde o roque e a amiga visitariam a grande biblioteca com cacifos e portas de supermercado.
Era em Groningen, que o canivete suíço vivia e foi Erasmus durante um ano.

O roque e a amiga saíram do autocarro e como o canivete suíço não chegava, elas sentaram-se no chão, na beira da estrada e esperaram.
Não fazia mal esperar. Isso não importava. Elas tinham chegado à Holanda, há meses que não iam a casa ou beijavam a família, mas tinham viajado, tinham rido muito e dificilmente alguma coisa poderia ser melhor do que aquilo. Viram paisagens que só conheciam dos livros, conheceram pessoas que lhes mudaram a percepção dos livros de História e ensinaram um pouco de Portugal. Mesmo entre as duas, meses depois e ainda havia muito para conversar.

Logo depois (ou muito tempo depois - quem vai saber?), o canivete suíço chegou. Beijos, abraços, muita alegria e mais beijos e abraços.
- Bem-vindos à Holanda - disse o canivete suíço rindo-se, enquanto erguia o braço, mostrando um charro.
O canivete suíço sentou-se com o roque e a amiga e juntas fumaram. E riram mais. E falaram ainda mais. Naqueles tempos os silêncios não existiam, nem as queixas ou desilusões.
Um polícia chegou e explicou que não se podia fumar na rua, que teria que multar as três. Elas apagaram o charro, pediram desculpa e foram absolvidas as três.

Era incrível como mesmo estando longe durante todos estes meses, as três estavam tão iguais e partilhavam sentimentos tão idênticos.
Todas confiantes, no futuro e na vida. Sabiam o que queriam, admiravam-se pela capacidade de terem ido para longe, de cozinharem e de lavarem a sua própria roupa. Mas sobretudo de conseguirem ser tão felizes. Felizes em países desconhecidos, vivendo com uma língua desconhecida, onde por vezes sem sabiam o que comiam.
Fizeram amigos, falaram em inglês, regatearam em turco, caíram de bicicleta, aprenderam a parar um dolmus em turco, saltaram num barco, beijaram e até choraram.

Havia nelas quase uma arrogância, como que uma prepotência justificada, num momento em que elas eram as suas próprias heroínas.