sábado, 11 de outubro de 2014

Colecção A Formiguinha, Majora #1

Os Três Irmãos e os Três Pretos

(Colecção Formiguinha, Editora Infantil MAJORA - Porto, Portugal)

Os Três Irmãos e os Três Pretos

Claramente esta é uma história sobre três irmãos e três pretos (também irmãos? Ou seriam primos?)
Os irmãos (obviamente bracos) são filhos do Tio Bartolomeu, um carvoeiro, que um dia vai à cidade, deixando os três irmãos ficam responsáveis pelo negócio familiar.

Durante a noite, o filho mais novo (o "dorminhoco - típico de filho mais novo) deixa que o "borralho" se apague. Para evitar que os irmãos lhe "ralhem", ele "mete-se pelo monte em busca de lume" (quem nunca fez o mesmo e foi pelo monte, às escuras e sozinho, à procura de lume, que atire a primeira pedra!).
Ele viu uma luzinha e "achou-se diante de três pretos, de argola de oiro na orelha, tamanhos e tão fortes como gigantes, que se encontravam acocorados" - a Formiguinha não conta, mas de certeza que também estavam nus, pois de gente desta não se pode esperar outra coisa*.
O irmãozinho dirige-se a eles, chamando-lhes "santinhos" e lá consegue que os "três pretos" lhe dêem um tição. O puto levou-o, mas logo se apagou. Ele voltou e "pelas alminhas" pediu um novo, que lhe foi concedido e também esse apagou. Depois e mesmo com medo dos "pretalhões", o bravo irmãos mais novo teve coragem para voltar e pedir um terceiro!

Quando chegou perto dos irmãos, estes já estavam acordados e só acreditaram no mais novo quando viram os tições, mas: oh magia! Milagre! Os tições eram agora barras de ouro.
Se uma cabeça pensa, três pensam ainda mais e nas duas noites seguintes, os outros dois irmãos fizeram o mesmo que o mais novo, passando a fortuna dos filhos do Tio Bartolomeu, de três a nove barras de ouro. Afinal, por quê morar num casebre, quando se pode viver numa vivenda junto do mar? 
Agora que eram ricos, os três decidiram também deixar de falar com o Tio Bartolomeu, porque "a gente rica ficava mal ter um pai carvoeiro" - justo!
Palácio, roupas, coche "tirado por seis cavalos branco" e toda uma vida digna de um entrevistado da Caras. Até que... pufffffffff: o fogo do fogão deixou de funcionar e, senhores, o frio que fazia!
Os manos logo mandaram um empregado, perdão, um "criado", assim relata a Formiguinha (e sejamos fiéis ao texto),  pedir fogo ao primeiro que passasse. E quem foi o primeiro?
Naaaa, do Tio Bartolomeu não saberemos nada mais!
Não foi um, não foram dois, mas sim "três pretos, grandalhões e com argola de oiro de oiro" descreveu o criado aos patrões.
Os três irmãos, que podiam ter frio, mas ainda tinham mais ganância, tiraram fora o tição. Afinal, se nove barras de ouro ("oiro") são boas, dez são ainda melhores. Porém, desta vez, o "tição em vez de se apagar, largou de si altas labaredas, que, dentro em pouco, consumiam o palácio"

No fim da história, a Formiguinha conclui: "Ai quem tudo quer, tudo perde"




*Nota: a Formiguinha não conta, mas claramente ilustra, como se vê na capa do livrinho. A Formiguinha não desilude e não deixa nada ao acaso.